Depois de ter estado numa reumática fila de espera para as cantinas devido, ao que parecia ser um passeio de uma junta de freguesia qualquer dirijo-me ao único quiosque aberto ao domingo na Praça.
Entre revistas e jornais chamou-me a atenção a manchete do JN: "Três em cada dez alunos universitários não terminam o curso", porque o Publico de hoje nem inspira a sua compra e o Expresso custa um almoço, matei a curiosidade da manchete. Como já devia esperar, não era bem isso que eles queriam dizer, o título na pagina 6 era outro: Três em cada dez universitários atrasam-se a completar o curso. Aqui, a única novidade era serem apenas três em dez.
Ainda no primeiro parágrafo fiquei algo admirado com as declarações de Luis Reis Torgal, coordenador do Centro de Estudos Interdisciplinares na UC. Diz ele que "o facilitismo de Bolonha vai contribuir para elevar" as estatísticas de sucesso. É verdade que de faculdade para faculdade as coisas são diferentes, mas na minha faculdade, facilitismo, foi coisa que nunca observei. Concordo com ele quando diz que Bolonha foi uma "oportunidade desperdiçada de fazer uma excelente reforma do Ensino Superior", "o pânico, a tragédia e o horror" poderiam descrever o que um aluno universitário sente ao dirigir-se aos serviços académicos e descobrir que não está inscrito na faculdade. Ou entrar numa sala e ver que o único lugar vago é a cadeira opé do Dr., confesso que foi aqui, também, que descobri o quão confortável pode ser um degrau de escadas.
Mas voltando ao facilitismo anunciado, de forma muito simples mostro que isto é tão verdade como Santana Lopes ser o próximo presidente do PSD.
1-Os exames passaram de 3 horas para 2 horas, óptimo seria que todas as provas tivessem a estrutura para as anunciadas 2 horas. Ora isso não acontece, e quando damos por ela estamos a resolver o caso prático por tópicos.
2-Alunos de primeiro ano com cadeiras de segundo ano. É uma emoção entrar em cadeiras como Direito Internacional e não ter noção sequer do que era uma reserva de lei.
3-Avaliação continua é apenas para 30 a 40 pessoas, quando numa turma somos seguramente mais de 150.
4-Quase nenhuma cadeira têm avaliação continua. Eu nem me queixo muito, tenho aulas em que a utilidade marginal das mesmas é negativa.
5-A época de recurso é meses depois da primeiro exame.
6- A época de recurso em Setembro já não existe.
7-Temos mais cadeiras por cada ano.
Agora mostrem-me o facilitismo disto tudo. A licenciatura é de quatro anos, certo. Mas obviamente, que não vou conseguir fazer nos quatro anos. Ou então, para isso tornaria-me um devorador de doutrina, um acéfalo sugador de matéria mastigada, incapaz de me relacionar com os outros e com o que me rodeia. Pena tenho eu dos que se focam unicamente na licenciatura. Que mundo perdem eles. Que vida inútil eles levam.
Como diz um sóbrio professor meu, "Quem só sabe Direito, nem Direito sabe.".